Um dia desses peguei Maria na casa da avó e ela estava visivelmente desorganizada.
Respondendo rispidamente, ranzinza, chorosa e beirando uma crise. Como já sei identificar, procuro deixar ela se acalmar e depois vou conversar.
Eu perguntei o que tinha acontecido que tinha deixado ela tão chateada. Ela respondeu que tinha ido em um lugar assustador! E que isso a deixou com medo.
O lugar assustador era a casa da vizinha que tem um restaurante de entregas. Ela já tinha ido lá comigo uma vez, então eu fui perguntando o que tinha de tão assustador lá. A resposta foi:
“Fui num lugar onde eu não reconhecia ninguém, era um ambiente estranho pra mim. Tinha muitos barulhos e cheiros diferentes e eu fiquei com medo.”
Para a maioria dos autistas, barulhos, luzes e cheiros são estímulos que nem sempre eles conseguem processar. Quando todo o sensorial é acionado de uma vez só, a sensação de perigo se torna iminente. Não importa se ele já conhece o lugar. Essa demanda sensorial é uma sobrecarga e o organismo reage.
Essa reação da Maria me fez lembrar de inúmeros locais que fomos e que ela reagiu mal e se descontrolou. Muitas das vezes eu não compreendi.
Hoje ela consegue verbalizar e eu vou fazendo minhas notas mentais para não julgar errado de novo.
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Um abraço!
Simone Rocha
