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Piquenique

E de repente MA passa na cozinha, pega um banco e sobe para ter acesso à fruteira. Desce com 2 maçãs, duas bananas e uma mexerica. Questionada sobre o que iria fazer, ela responde “piquenique mamãe” e vai embora para a garagem.

Eu estava trabalhando e precisava terminar uns pequenos detalhes, confesso que fiz vista grossa. Ouço minha mãe chamando a atenção dela:

– Maria Antônia, você não pode fazer isso! Passar a casca da mexerica no rosto pode te machucar!

Eu levantei e fui ver o que tava acontecendo. Ela entra com uma casca na mão, passando no rosto e cabelo incessantemente! Logo vi que a atitude era um ato de protesto por ter seu piquenique invadido e desmantelado! Pois minha mãe começou a pegar as coisas e tirar do sol.

– Filha do céu! Isso pode queimar sua pele! Não pode mexer com mexerica no sol! – Eu falei enquanto recolhia as frutas.
– Não mãe! Não pega minhas frutas! – Ela chorava compulsivamente.

Eu estava impaciente! Precisava terminar meu trabalho e tinha que juntar a bagunça dela lá fora! Nesses momentos eu sou invadida por uma vontade de gritar louca! Gritar pra ela juntar aquilo tudo e me deixar finalizar minhas coisas em paz!
Chego lá fora e começo a pegar as frutas no sol enquanto ouço ela chorando dentro de casa:


– Não mamãe! É meu piquenique! Por favor, mamãe, não destrói meu piquenique!

Olhei ao redor 1 segundo e vi uma toalhinha estendida no chão, brinquedinhos espalhados e uma garrafa de água. Tudo posicionado numa baguncinha fofa. Ela preparou um piquenique pra ela… sozinha. Naquele segundo eu percebi que aquela brincadeira era importante pra ela e eu não poderia simplesmente destruir.


Eu estava fazendo a coisa certa tirando ela do sol. De fato o sumo das frutas cítricas causam queimaduras, mas eu não precisava fazer de forma arbitrária. Ela é criança e crianças ignoram perigos e consequências por falta de maturidade.


Enquanto recolhia as coisas (e ouvia ela esgoelando lá dentro) eu pensei no quanto ela tem brincado sozinha. No quanto ela está acompanhada somente das bonecas e dos pensamentos mirabolantes de menina travessa. Pensei nela lá sozinha e meu coração doeu!

Entrei correndo e disse:
– Filha, toma banho rapidinho com a vovó que vou te fazer uma surpresa!
– O que é? – parando de chorar quase que instantaneamente!

– Surpresa ora! Vai lá e volta que te mostro!


Eu peguei um lençol maior, frutas frescas, água, as bonecas preferidas, livros e montei um piquenique na sombra. Esperei ela terminar o banho e levei pra garagem.

– Mamãe!!!!!! Que lindo, mamãe! Um piquenique novinho! Tá tão lindo! Eu amei!


Dessa vez me sentei com ela. Comemos olhando o céu incrivelmente azul e limpo naquele dia. Lemos algumas historinhas, conversamos sobre os temas dos livros, rimos juntas! Entre um abraço e outro de alegria eu pensava que meu lugar naquele momento era ali, com ela.


Mais tarde, naquele mesmo dia, pensei em quantas vezes decepcionamos nossos filhos com atitudes corretas, mas que aos olhos deles estão erradas. E em como, na maioria delas, podemos fazer diferente.

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