DESENVOLVIMENTO DA MARIA ATÉ OS 4 ANOS
Maria sempre foi a frente nos marcos de desenvolvimento. Desde pequena demonstrou inteligência superior a crianças da sua idade. Porém, eu não enxergava assim. Talvez por ser mãe de primeira viagem e não ter outra criança em casa, eu não percebia essa diferença claramente.
Ela cresceu como uma menina de gênio forte e decidida. Ela brigava por tudo que queria! Ela gritava alto, chorava, tomava as coisas da gente. Por diversas vezes não sabíamos como agir, porque ao mesmo tempo que eu admirava a persistência eu não queria que ela se sentisse a rainha da casa.
Ela começou a falar cedo e aos 2 anos já contava casos complexos para a idade e sustentava diálogos. Falava as palavras erradas e era a coisa mais linda. Apesar de ter um bom diálogo, quando tinha alguma ideia que queria colocar em prática, ela não sabia se expressar direito! E nós não conseguíamos ajudá-la, pois não entendíamos a extensão do que ela queria. Isso desencadeava acessos de raiva e choro intensos! E muitas vezes ela tentava fazer sozinha, já que ninguém a compreendia.
Tudo esse comportamento e desenvolvimento da fala, achávamos que era pela convivência com adultos. Morávamos com meus pais desde que ela fez 1 ano, então ela era cercada por adultos. O comportamento imperativo e as crises de “birra”, também achávamos que era por morarmos com meus pais, que por serem avós acabavam fazendo todas as vontades e relevando atitudes que deveríamos corrigir. Não estamos culpando meu pais, quero que fique claro! Apenas relatando o que pensávamos na época.
Quando ela foi pra escola achamos que ia melhorar, mas no ambiente escolar algumas coisas não saíram como imaginávamos. Ela não se conectava adequadamente com ninguém, nem coleguinhas e nem professores. Ela demonstrou um comportamento desafiador com os professores e tinha atitudes consideradas inadequadas. Como por exemplo não gostava de participar das brincadeiras e dinâmicas, não gostava de trocar de tarefa dentro da sala, não colaborava quando solicitada.
Ao mesmo tempo, no ambiente familiar ela era como qualquer outra criança, brincava com os primos, com os tios e amigos. Com a diferença de que sempre gostou mais de conversar com adultos que com crianças. Como eu disse, ela aprendeu a falar muito cedo e desde sempre teve um linguajar correto, com uso de palavras difíceis e complexas para a idade dela.
Na alimentação ela era extremamente seletiva, não no repertório alimentar, mas na forma de se alimentar. Ela comia bem comparada com outras crianças, mas não aceitava comidas pastosas ou misturadas. Tudo tinha que ser apresentado separadamente, senão ela não comia. Teve até um episódio onde eu coloquei o arroz e o feijão no mesmo prato e ela jogou na parede, gritando que não comeria.
Nós incentivávamos que ela comesse outras coisas, inclusive nunca proibi guloseimas e refrigerantes, mas ela nunca gostou. Basicamente tudo que é, erroneamente, atribuído a paladar infantil, ela não comia. Como forma de recusar sem que a gente insistisse muito, ela aprendeu a dizer que a comida era nojenta. E passamos várias situações por causa disso. Rsrsrs…
À medida que ela crescia, algumas coisas foram se intensificando. Ela foi ficando menos tolerante às frustrações. Coisas pequenas a afetavam de forma intensa. Nosso dia a dia começou a pesar muito. Ela queria estar à frente de absolutamente tudo. Ela tinha que levantar primeiro, ela tinha que comer primeiro, ela tinha que tomar banho primeiro. E quando ela não era priorizada, era gatilho para o choro e descontrole emocional.
Era inegável que algo estava fora do padrão. Mas eu não sabia o que era. E essa incerteza me fez ser muito julgada e criticada. “Ela precisa de limites!”, “Você precisa ser mais dura com ela!”, “Deixa de castigo!”, “Corta a TV que melhora!”. Acontece que eu nunca fui permissiva. Eu sempre instruí, expliquei, conversei. Mas eu não a agredia. Eu não batia, não silenciava, não “mostrava quem manda” da forma que todos esperavam. Então eu fiquei com a fama de mãe Nutella. E eu comecei a achar que realmente meu maternar era errado. No desespero de não ter resultados eu deixei de castigo, cortei privilégios, cortei as guloseimas que ela passou a gostar e me arrependo bastante de tudo isso.
Com quase 4 anos de idade, nos mudamos de cidade e as crises ficaram mais intensas e constantes. Nessa época ficou mais aumentou a necessidade de controle. Tudo ela tinha que fazer primeiro. Também veio a aversão às regras e a necessidade de sempre manipular para ganhar um jogo ou mudar regras da casa. Não aceitava sugestões ou ordens em casa, tudo era extremamente custoso e desgastante.
Os stims estavam a todo vapor. Flappings, rodava até ficar zonza, pulos e mais pulos, assistia TV de cabeça pra baixo, corria bastante e escalava as coisas. Os barulhos eram insuportáveis aos ouvidos, ela não gostava de usar roupas e sapatos. Apareceu uma ecolalia que a fazia dar uma pausa grande entre uma palavra e outra ou ela repetia o final da palavra várias vezes antes de concluir um pensamento.
Tudo isso se intensificou muito com a mudança! A quebra da rotina, a saudade dos avós, a casa nova e mais restrita, pois mudamos de uma casa para um apartamento, a escola nova… era muita coisa para processar e para se regular ela começou a usar todos os artifícios que ela, instintivamente, tinha.
Lógico que eu não sabia nenhuma dessas definições na época. Flappings, stims, ecolalia, regulação… nada disso eu entendia. Mas eu via minha menina cada dia mais desequilibrada emocionalmente e eu precisava agir.
No último post dessa série, vou falar como busquei ajuda e como Maria está atualmente.
Se você gostou, compartilha com alguém que precisa ler isso! Vamos expandir os conhecimentos!
Um abraço!
Simone Rocha
Para ler a primeira parte da série clique aqui.