CAMINHO PERCORRIDO ATÉ O LAUDO
Depois de passar um tempo analisando o comportamento da Maria e vendo o emocional dela indo ladeia abaixo, eu resolvi procurar respostas. Eu não sabia nem por onde começar! Essa era a verdade. Eu sabia que ela precisava de ajuda, mas não tinha ideia de onde e como buscar.
Eu resolvi conversar com a professora da Maria e ela me disse que Maria demonstrava sinais de depressão. Muito acuada em sala, chorava todos os dias, só aceitava a presença dela, com outros professores ela não lidava bem, não correspondia às tentativas de aproximação dos colegas. Eu fiquei tristíssima e me sentindo culpada, pois pelo que parecia a Maria estava em depressão pela mudança brusca que fiz na vida dela.
Procurei ajuda no postinho perto da minha casa, mas lá não atendiam crianças com menos de 5 anos. E a psicóloga do SUS falou que as dificuldades da minha filha vinham das minhas dificuldades. Que eu estava passando inseguranças pra Maria. Que crianças se adaptam muito facilmente a mudanças, mas nós adultos dificultamos tudo. Eu, que estava fragilizada, comprei essa lorota durante um tempo. Até perceber que eu estava apenas sendo desviada do meu objetivo, já que a maioria das características que Maria tinha eram anteriores a essa mudança.
E aí eu fui procurar exatamente as respostas que precisava. E como toda pessoa curiosa nesse Brasil, eu digitei no Google…. hahahaha… Minha pesquisa foi: criança que assiste TV balançando os braços. E vieram vários artigos sobre o Transtorno do Processamento sensorial.
Lendo esses artigos eu percebi que Maria tinha várias questões sensoriais bem visíveis. Sensibilidade auditiva, sensibilidade oral e tátil, seletividade alimentar, busca sensorial rodando, pulando, estalando os dedos. E no fim da maioria dos artigos falava sobre como o TPS era comum em crianças autistas.
Daí eu já comecei a olhar diferente pra ela. Não no sentido de estranhamento, mas de reconhecimento. Eu comecei a ler sobre autismo e cada vez mais fazia sentido. Mas ninguém concordava comigo. As pessoas que comentei não validaram minhas dúvidas e eu acabei deixando pra lá.
Nesse meio tempo, uma amiga dividiu comigo a dúvida sobre o filho dela. Eu não comentei que tinha a mesma dúvida sobre a Maria, mas comecei a pesquisar de novo para apoiá-la. Nessa fase de pesquisas eu achei um vídeo, onde um autista adulto falava algo assim, “O dia que aceitei que eu sou autista, foi o dia que eu parei de querer morrer.” Essa frase tem muito impacto na minha busca pelo diagnóstico da Maria. E até hoje quando relato isso, eu choro. Essa pessoa do vídeo é o Fabio, Tio Faso, da página Se eu falar não sai direito.
Nesse dia eu resolvi que, validada ou não, eu buscaria ajuda profissional. Nessa altura do campeonato, meu marido conseguiu um emprego que oferecia plano de saúde e eu marquei uma pediatra. Minha ideia era chegar lá e dividir com ela minhas angústias e ver o que ela me falava.
Dia marcado, lá fomos nós para a consulta. Maria tinha 4 anos e meio, na época. Eu adorei a pediatra de cara. Muito respeitosa, calma, carinhosa e paciente. Maria não deixava a gente falar, interrompia e brigava sempre que não era permito ela falar. Sentou na cadeira e rodopiou a consulta inteira. Na hora de ser examinada queria mexer em tudo e fez inúmeras perguntas.
Eu não comentei nada sobre minhas dúvidas, a consulta caminhava para o fim e a Dra me perguntou se eu tinha mais alguma queixa. Eu comentei que achava a Maria muito agitada e ela, com bastante cuidado me disse que iria encaminhar a Maria para neuropsicólogo e fono, pois achava que ela estava no espectro autista. Naquele momento eu dividi todas as dores que eu guardava a meses e tive minha primeira validação.
Depois dessa consulta, todas as dúvidas foram indo embora. Na consulta com a neuro ela fez perguntas, tanto pra mim quando pra Maria e saí de lá com o primeiro sim para autismo. Além da fono, fomos para TO. Ficamos com essas terapias quase 1 ano. E as coisas começaram a melhorar. No início de 2019, marcamos uma consulta com Psiquiatra e de lá saímos com o laudo constando o CID F84.0, autismo infantil, nível 1 de suporte. No final de 2020 fizemos um laudo neuropsicológico que trouxe a Maria para o nível 2 de suporte, adicionou a investigação do TDAH e a confirmação das altas habilidades/superdotação.
Todo o processo pelo qual passamos foi de muita importância! Muitas pessoas invalidam o laudo dizendo que não é necessário. Mas é importantíssimo buscar respostas para situações que não entendemos. E principalmente, dar para a Maria o tratamento e acompanhamento que ela merece. Ela precisa crescer sabendo quem ela é. Sabendo lidar com as dificuldades de ter um cérebro que funciona diferente. Isso deveria ser acessível para todos!
Eu tenho plena certeza de todos os privilégios que tive para conseguir esse laudo e começar a intervenção precoce. Sinto muito por todas as mães, crianças e adultos que não tem esse mesmo privilégio. E por isso, direcionei meu Instagram e criei esse site para apoiar e disseminar informações sobre autismo.
Eu tenho planos para tudo isso e espero conseguir coloca-los em prática, pela minha filha e por tantos outros autistas que estão por aí.
Agradeço quem acompanhou nossa história! Uma história que a cada dia tem um capítulo novo e que quero continuar dividindo com vocês.
Aguardem, pois muita coisa está por vir!
Um abraço
Simone Rocha
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